terça-feira, 9 de março de 2010

Futurista do hoje


            Reduziram os espaços de brincar, ganhamos telas que expandem o mundo, atrofiaram os livros, globalizaram a língua. A evolução do homem estacionou, temos menos pelos por culpa do clima descontrolado, os sisos não crescem mais, as bolinhas de gude já não estalam entre os dedos, esqueceram as figurinhas de posto. Cadê as bonecas com cara de bonecas?, porquê a Barbie tem cara redonda hoje, e o eterno príncipe nunca chega, apenas tecla.
            Estamos ficando velhos, ficando obsoletos as novas tecnologias, perdendo o espaço e ganhando o virtual. Um espirro aqui é assunto de um blog ali, uma mancada aqui é comentado num twiter lá.
            Imediatismo, gerando sensacionalismo; já não encontro pequenos folheando gibis da Mônica, apenas rindo de mais uma charge no começo de um jornal. Da simplicidade só nos restou nos pedidos pelo telefone de um lanche do McDonalds, praticidade é não sair de casa para abraçar um amigo. Calor? Temos ar condicionado. Frio? Temos o descaso de deixar alguém morrer nas ruas. Fome? Deve existir, e as necessidades? Não comento, não tenho mais tempo.
            Ser encontrado é fácil, celular, pager, quem sabe chips implantados, mas e encontrar a si mesmo, ficou em segundo plano. Chegou a ponto de propagandas ensinarem a sermos mais educados, esqueceram o "obrigado", desistiram do "de nada" .
            Vitrolinhas modernas, com milhares de MP3 para galera curtir, cabelos de várias cores e formas, roupas ditam seu padrão, seu dia a dia, não ame mais, ninguém te ama quando você não usa um Nike.
            Desistir de viver, nunca; é o que resta para ser vivida, Deus pode ter terceirizado a criação das pessoas, pode ter informatizado o processo de anjos, mas ainda olha por nós. Alias, olhe a sua volta, abaixe, fuja das balas perdidas, de adeus ao seu sossego, mas não deixe de respeitar seu próximo. Por mais que você tenha que escolher entre proibir ou não o uso de uma arma, lembre-se que Jaspion usava uma pistola de raio laser, e nem por isso você está dando tiros por ai.
            Surge a dúvida, He-Man seria homossexual?, Shirra era lésbica? Ou seria o garotão de Glayscow transvestido de gostosa da bondade?! Putz. Esquecemos de ver as pessoas pelo que são, e as julgamos antes de qualquer reação. Dinheiro é tudo, bondade não é quase nada, andam premiando as pessoas que fazem bons atos, de tão poucos que se tornaram.
            Sinto muito lhe dizer, tive infância, tive adolescência, mas a vida adulta não se tem mais, o que se tem é o sonho de ter casa própria, é a vontade de não entrar para o SPC, é desejar um automóvel mais potente que o do vizinho, é chorar por uma traição, seja ela, amorosa ou política.
            Abriremos uma CPI, do fim do mundo, tomara que acabe em pizza, não quero o fim de tudo isso que foi criado em 7 dias, em meados de dois mil e tantos anos.
Respiro fundo, quase engasgo com o cheiro de cigarro, abro bem os olhos e doem pela luminosidade da tela. Estou vivo, mesmo indagando a vida, posso agir, posso sorrir, posso assistir TV.
            Boa ideia, vou para aquele ecrã, cheio de coisinhas bonitinhas, e me tornando um ser sem reflexão do que fui, do que sou e do que talvez não consiga ser, já que tenho câncer, o mal do século.

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